sexta-feira, julho 3

Oneshot: Confissões de dor

Textinho da minha autoria. Comentem (positiva e negativamente) por favor :DD
Confissões de Dor
Tudo lá fora é belo e gracioso. As pessoas conversam e disparam sonoras gargalhadas. Os pássaros em cima das árvores cantam melodicamente em conjunto. As flores abrem e sorriem para o Sol. Os peixes nadam contentes nas águas claras. E eu? Onde está a minha beleza? A minha felicidade? Ou até mesmo, a minha alegria de viver? Não posso responder a essas, aparentemente, simples questões! Porquê? Provavelmente porque não sou como todos os seres, provavelmente porque não posso ser como todos os seres e, mais importante que tudo, provavelmente porque a minha vida já acabou! Sim, estou oficialmente morta. Apenas vivo durante a noite, enquanto toda a gente dorme, os animais descansam e as plantas fecham. Vivo enquanto a vida está morta. Este facto é penoso, ou melhor, deprimente! Sinto a necessidade de uma conversa de amigos, um abraço de pais, um alguém para amar… Tudo isto me provoca dor e sofrimento. Embora esteja morta, a alma permaneceu comigo e penso que nunca me abandonará. Pelo menos esta foi-me, é-me e ser-me-á fiel eternamente. Moro numa caverna perto da igreja da esquecida vila Alone. Escondo-me da luz pois esta fazer-me-ia sentir muitas dores, coisa que eu já sentia há algum tempo mas evitava de aumentar. Saiu durante a noite escura pois só esta me reconforta, só esta me alivia parte da angústia quando o vento me sopra nos cabelos negros e refresca as narinas ao inalar o seu cheiro húmido. Ninguém sabe da minha “existência”, nunca ninguém me viu desde que morri para a vida. Apenas me acompanham os insectos que surgem durante a noite e os ratos que correm quando vêem a minha imagem desfocada. Era uma jovem de 15 anos para quem a vida era cruel. Órfã de pai e mãe, abandonada num lar de freiras que já nem a elas mesmas cuidavam. Apenas tinha a meu favor a mentalidade que não correspondia com a minha idade, era muito superior à de uma adolescente. Talvez se devesse ao facto de ter sofrido tanto desde que nascera. Neste momento, sou um simples corpo reluzente de luz branca florescente que todo o mundo, aliás, que as poucas pessoas que conheciam esquecerão há 10 anos atrás. Brilho na escuridão como uma lâmpada faria num buraco negro, mas apesar disso tenho o cabelo liso e escuro como sempre tive, trajo um longo vestido branco que usara no dia da morte e os meus pés estão descalços porque não interessa a dor da picadela de um diminuto vidro, esta comparada com o ardor que sinto não é nada. Para ser sincera nem eu mesma sei o que sou… quem sabe: um fantasma? Acho que é esse o nome utilizado geralmente! Qual o motivo da minha morte e como foi? Essa sei responder! Era dia 22 de Março de 1901, tudo estava normal, aborrecido para não variar. Todos os outros adolescentes estavam ocupados a fazer parvoíces uns aos outros e eu só queria dormir. Não me apetecia ver ninguém, doía-me muito a cabeça mas alguma coisa me dizia que devia erguer-me. Assim fiz ainda que cambaleasse cheia de fraqueza. Com alguma dificuldade conduzi-me até á casa de banho que se mostrava vazia nesse momento. Molhei o rosto e olhei-me ao espelho. Assustei-me com a triste imagem de arruinada que era reflectida. Fechei os olhos, respirei fundo e reabri-os. Concentrei me naquela figura que estava na minha frente e murmurei: “Isto acabará hoje!” Um vulto de energia apoderou-se de mim e então desatei a correr para o quarto. Abri a cómoda com a minha pouca roupa, escolhi o melhor vestido que tinha e enfiei-o apressadamente. Abandonei o quarto e dirigi-me para o pátio. Aqui toda a gente estava absorvida pelos seus pensamentos do dia-a-dia. Percorri com os olhos todas as suas desprezíveis faces que por 15 anos me humilharam com as suas estúpidas palavras ofensivas e as suas partidas de mau gosto. Senti o ódio encher-me a alma mas superei-o e continuei o meu caminho agora para a saída do estabelecimento. Sem saber ao certo o que pensar, voei pela rua deserta que seguia para a montanha. Esforcei-me ao máximo para caminhar o mais rápido possível. Então, depois de algum tempo, cheguei ao meu destino. Estava completamente impotente, arrasada, rebentada. Não havia sinais da presença de quem quer que fosse. Encontrava-me no topo da montanha mais alta da região. Senti uma tontura e estremeci. Vi nesse momento uma apresentação com imagens de toda a minha vida, os poucos sorrisos que dava, os momentos em que chorava e até os dias em que me escondia dos meus companheiros de quarto com medo que me fizessem mal. Isto era o que eu desejava. Acabar com o sofrimento. Deixar de estorvar no mundo. Parar de ser uma outra peça inútil num puzzle interminável. “Basta! é agora ou nunca.”, resmunguei para mim própria. O abismo estava agora comigo. Um passo e tudo morreria ali. Decidida e firme da minha decisão, pulei o penhasco. Durante a queda perdi os sentidos todos. Tudo acabou naquele minuto! Para meu espanto, quando pousei no chão acordei. Não sentia absolutamente nada para além da dor que a luz me fazia. Continuo aqui e continuo a sofrer. A minha tentativa de escapar à solidão fracassou e por isso cá estou lutando para suportar a mágoa e arrependimento que me apontam o dedo todos os dias que penso na atitude errada que escolhera.
Afinal a morte não era a solução para os problemas humanos. Ou não seria apenas para mim? Nada me provou ainda o contrário…
DarkstarMarlene in a boring day o.o

6 comentários:

Twilightsaga disse...

Oh meu deus !
Tu não sabes , nem tens ideia das coisas maravilhosas que escreves *.*
Eu chorei ao ler este texto , é absolutamente lindo +.+

Anónimo disse...

Bem...estou sem palavras...
Parabéns, está muito original.

Take Care

Ass: Anca

Mary Júnior Calhambeque disse...

AMEI *.*
Qe texto LIndo :D

Mary Júnior Calhambeque disse...

AMEI *.*
Qe texto LIndo :D

RaquelGomes disse...

oh meu Deus, amei completamente!
Tens tanto jeito para escrever!

Noir disse...

Absolutamente magnífico. Já te disse que escreves muito bem, e ultimamente tens evoluido bastante ^^


Lady Noir
(hayley)